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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Naciremas, Cultura e Alteridade

Reproduzido no grupo do facebook "ongep noite 2017"

Queris,
Como vimos na última aula de quarta, antes da maravilhosa e emocionante classificação do colorado na Copa do Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha traz inúmeras reflexões sobre o modo de pensamento que foi colocado na época e como nos influenciou e influencia até hoje. Como comentamos anteriormente, nada mais importante que estudar o passado para compreender o presente e prospectar/planejar o futuro.
Das inúmeras reflexões que fizemos ao longo da noite, creio que duas são das mais fundamentais e esse texto é pra colocarmos mais "pulguinhas" de curiosidade para a próxima aula.
A primeira diz com relação ao objetivo das Ciências Sociais/Sociologia durante o ano, ou seja, estaremos demonstrando métodos de compreensão da sociedade a partir de casos cotidianos ou obras literárias, mas que não teriam a mesma relação com opinião. Ao fazermos isso, não colocamos um juízo de valor quanto ao conhecimento, mas partimos de fatos históricos e construímos uma linha de argumentação a partir de inúmeras teorias. Esse fazer a partir de métodos e teorias trabalhadas são o que chamamos de Ciência.
Toda essa conversa é pra estabelecer nosso objetivo que é chegarmos a uma Imaginação Sociológica. Só que pra chegarmos nesse objetivo, precisamos de dois recursos muito importantes que se denominam como Estranhamento e Desnaturalização.
Mas pq estudar e aprender essa tal Imaginação Sociológica? Justamente, pesquisar a sociedade e a influência sobre os indivíduos ou grupos sociais é compreender a nossa realidade. Mais do que entender a palavra ou os conteúdos para uma prova, como diria o nosso bom velhinho Paulo Freire, é importante que conheçamos o mundo, termos uma leitura de mundo.
Não é uma tarefa fácil, pois estabelecer relações de conhecimentos entre caixinhas disciplinares que nos condicionam em nosso Ensino Médio e na preparação para o vestibular torna-se extremamente complexo. Por isso, tanto a Sociologia, quanto outras disciplinas ao longo do ano, tentarão estabelecer esse emaranhado de conexões junto com vocês, pra que em suas vidas, em seus trabalhos, em seus cursos, possam não só receber esses conhecimentos, mas jogá-los ou subvertê-los...
Em segunda lugar, a nossa aula tratou sobre o tema da Alteridade no contexto da Carta de Pero Vaz de Caminha. Mais do que lermos as obras obrigatórias para o Concurso Vestibular, será necessária uma constante relação com a História de suas obras e complexificarmos o nosso pensamento a partir do que esse momento representou para o Brasil.
O conceito de Alteridade não é fácil, tanto que nosses amigues da filô trabalharão essa relação o ano todo. Por isso, fizemos uma primeira aproximação ao comentarmos a relação de espelhamento do Outro ou a Alteridade a partir da Diferença.
Acima de tudo, trouxemos alguns conceitos como Cultura, Etnocentrismo, Relativismo Cultural e a própria Alteridade. O que posso dizer é que não se preocupem, pois trabalharemos tudo isso com detalhes nos próximos Encontros 
Mas o que gostaria que pensassem sobre a última aula, é como o texto "Os Nacirema", apesar de falar sobre a nossa cultura, parecia ser tão distante de nós ou mesmo como a maioria fez a relação com o passado, apesar de não termos dito em nenhum momento, nem mesmo no texto, que se tratava de uma Cultura antiga.
Queria dizer que não foi erro nenhum, na verdade foi super importante a relação que começamos a fazer aos poucos. Para lermos aquele texto dos Nacirema, precisávamos utilizar esse recurso de Estranhamento de nossa Cultura, a qual comentei antes nesse texto.
Isso tudo é um processo de aprendizado.
Estranhar uma Cultura, o nosso fazer diário ou mesmo uma obra literária, acaba sendo um recurso de observar que os fenômenos sociais que rodeiam a todes e dos quais se participa não são de imediato conhecidos, pois aparecem como ordinários, triviais, corriqueiros, normais, sem necessidade de explicação, aos quais se está acostumado, e que na verdade nem são vistos.
Lembram da parte do Latipsoh ou do santuário sagrado? Ir para o Hospital ou ao Banheiro é tão trivial que não pensamos muito.
Vamos aos poucos entender e complexificar a compreensão de nosso contexto e problematizá-lo a cada semana.
Pra quem curtiu o texto dos Nacirema, estou postando ele completo. São seis páginas, bem tranquilo de ler.
Agora fico por aqui com esse textão de sábado.
Gde bj pra todes e que tenham um bom feriado 

Cidadania

No último dia 14 de junho, fizemos a nossa famosa aula de Sociologia com LIteratura e Redação 
A ideia era que produzíssemos um caderno de anotações e realizássemos observações sobre a nossa realidade. O caderno de anotações tem um outro nome no curso de Ciências Sociais, chama-se Diário de Campo.
O Diário de Campo serve para objetivar o conhecimento adquirido ao investigarmos uma sociedade ou grupo social.
Mais do que realizar essa objetivação do conhecimento, a ideia era mostrar que a Cultura, aquele conceito que trabalhamos ao longo de 2 meses, é produzida por nós mesmos.
Existe uma palavra em espanhol que denota quanto o poder da alteridade compõe o nosso Ser, essa palavra é Nosotros. Nosotros significa nós, a gente... A questão que fica é que nós (Nosotros) somos compostos por Outros, Outros que estão ao nosso redor seja através das pessoas, da comunicação ou dos símbolos.
Como toda a palavra que significa algo e coloca uma série de valores em disputa, Nosotros começou a ser, justamente, tensionada por Nosotras, no intuito de mostrar a disputa simbólica entre o protagonismo de cada seguimento da população.
Mais do que colocar essa disputa à baila, o intuito dessa saída de campo foi mostrar que a nossa cidade, naturalizada pelo nosso andar diário, é permeada por essas e outras disputas simbólicas.
Ao realizarmos uma caminhada pelo centro da cidade e passarmos por símbolos de resistência do projeto territórios negros como o tambor do sopapo ou tensionarmos a ideia de um símbolo turístico como a Igreja das Dores, vimos que se há disputa simbólica entre culturaS, então existe um outro conceito imbricado ou misturado nisso tudo chamado Poder.
Cultura e Poder andam juntos e misturados. Se existe Cultura e Poder, existem também instituições que legitimam algumas Culturas e outras não. Por isso da importância da disputa dessas instituições 
Mais do que mostrar essa rede de conceitos, inseridos em nossa cidade (Poder, Cultura, Instituições), queríamos mostrar que a vida de vocês, cada biografia, está intrinsecamente conectada com as histórias da cidade. Histórias essas que são contadas diariamente, como a reintegração de posse que ocorreu na ocupação lanceiros negros. Mais do que nunca esses três conceitos estavam relacionados naquela noite e nas outras tantas que compõem a questão da moradia na cidade de Porto Alegre.
Quando me perguntam pra que serve a Sociologia, sempre tento fugir da questão pragmática do "serve pra responder o ENEM". SIM serve, mas, acima de tudo, aprender Sociologia, Filosofia, as Ciências Humanas como um todo, mas também Matemática, Letras, Química, Biologia, é conseguir fazer a relação da minha biografia com o conhecimento construído até então e, a partir disso, produzir outro totalmente novo a partir de um método.
Mas a questão muito específica da Sociologia é conseguir DESNATURALIZAR (relacionar com a história) e ESTRANHAR (observar fenômenos sociais que nos rodeiam) as questões que vivemos diariamente. Mas olha só, não é nenhum problema fazermos essas questões automáticas, fazemos isso toda hora, justamente, para não entrarmos em dilemas a cada decisão que formos fazer. O problema é SÓ fazermos questões automáticas e nunca refletirmos sobre os nossos atos e os acontecimentos em volta. Pensar no contexto e nas pessoas em volta, debater e propor soluções para a vida em sociedade é também um ato de Cidadania (trabalharemos com mais calma nas próximas aulas).
Acima de tudo, saída de campo serviu para que relacionássemos tudo o que trabalhamos durante as aulas com a nossa vida ao redor.
Mais do que a leitura da palavra, fundamentalmente buscamos aguçar a nossa leitura de mundo, seja através das vivências e das possíveis análises que possamos fazer, seja através do estudo e da historicização da vida.
Ps.: Um agradecimento especial pro Leozin, que fez a oficina de produção de agendas. Mas também pra Dandara, Juliana, pra Vivis, o Gui e pra todo mundo que pode comparecer