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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Direito de Sonhar

Eduardo Galeano

"As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de direitos humanos, mas a maioria da humanidade não tem mais que os direitos de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a proclamar o jamais proclamado Direito de Sonhar?"

"A Educação não será privilégio de quem pode pagá-la..."
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O direito de sonhar não consta entre os trinta direitos humanos
que as Nações Unidas proclamaram em fins de 1948.
Mas se não fosse por ele, e pelas águas que dá de beber,
os demais direitos morreriam de sede.
Deliremos, pois, um pouquinho.
O mundo, que está de pernas pro ar, se colocará sobre seus pés:

Nas ruas, os automóveis serão pisados pelos cachorros.
O ar estará limpo dos venenos das máquinas,
e não terá mais contaminação
do que a que emana dos medos humanos e das humanas paixões.
As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel,
nem serão programadas pelo computador,
nem serão compradas pelo super-mercado,
nem serão assistidas pela televisão.

A televisão deixará de ser
o membro mais importante da família, 
e será tratado como o ferro de passar ou a máquina de lavar roupas.
As pessoas trabalharão para viver,
ao invés de viverem para trabalhar.