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sexta-feira, 11 de maio de 2012

O que é a sociedade?


O que é a sociedade? Um grupo de indivíduos? Então um time de futebol é uma sociedade? Ou então as pessoas presas num campo de concentração formam uma sociedade? Os judeus, espalhados pelo mundo, formam uma sociedade? Os Maçons, são uma sociedade? Nós, aqui, somos uma sociedade? Ou uma sociedade é algo, mais amplo, como um Estado, que nem o Brasil? Ou o Rio Grande do Sul? Ou Porto Alegre? É possível uma sociedade dentro de outra? O que diferencia uma de outra? Várias sociedades podem coexistir ao mesmo tempo? Tu podes participar de mais uma sociedade ao mesmo tempo?

E os indivíduos na sociedade? Eles são mesmo livres ou são coagidos? Vocês acham que vocês pensam livremente ou pensam o que a TV, a família, o chefe do trabalho ou o professor do cursinho mandam ou fazem vocês pensarem?

Na verdade existem várias teorias sobre isso. Na sociologia 3 são as principais.

- Durkheim acreditava que quando houvesse algum tipo de coerção, havia sociedade. Os indivíduos seriam consequência da sociedade. A sociedade é algo externo ao indivíduo.
- Weber, sociedade é um conjunto de ações individuais. A sociedade seria consequência dos indivíduos.
- Para Marx, sociedade é um grupo de pessoas que vivem em conjunto e produzem as coisas que precisam para sobreviver em conjunto.

DURKHEIM
Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a sociedade só é coesa quando existem valores, hábitos e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do grupo social ao qual pertencem.

Existe um conjunto de crenças e sentimentos comuns entre os indivíduos chamados consciência coletiva, que constrangem ou coagem os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta.

A consciência coletiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade e não o contrário.

Tudo o que é coletivo, exterior ao indivíduo e coercitivo, Durkheim chama de Fato social, que é o que acontece na sociedade.

Durkheim demonstra que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular.

Ele atribui três características que caracterizam os fatos sociais:
- 1: coercitividade, que pode ser entendido como a força que exercem sobre os indivíduos obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as regras, normas e valores sociais vigentes;
- 2: exterioridade, que pode ser entendida como a existência de um fenômeno social que atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais;
- 3: generalidade, que pode ser entendida como a manifestação de um fenômeno que permeia toda a sociedade.

O suicídio, por exemplo, a primeira vista pode ser encarado como um fenômeno individual, mas a constatação da sua regularidade ao longo do tempo (de acordo com os dados estatísticos) fez com que Durkheim o concebesse como um fenômeno social.

WEBER
Para Weber a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. As normas e regras sociais são todo tipo de ação que o indivíduo faz, orientando-se pela ação de outros. Não é algo que vem de cima, ou de fora, como diz o Durkheim. Mas que vem de dentro do indivíduo e da sua relação com o outro. Assim uma sociedade humana se diferencia de uma sociedade de formigas, por exemplo. Nós damos sentido às ações.

Só existe ação social, quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais.

Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Estes são conceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social:
1 – ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado; (tradição, sempre foi assim, ação sem reflexão).
2 – ação afetiva: aquela determinada por afeto ou estado sentimental; (de momento, na paixão, no calor, também sem reflexão).
3 – racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; (uma pessoa que crê no princípio que não devemos torturar pessoas numa democracia e age racionalmente, sempre levando em conta este princípio).
4 – racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. (como o capitalista, que age racionalmente, não pensando que para isso ele explora as outras pessoas).

MARX
A sociedade é um Grupo de pessoas que vivem em conjunto e produzem as coisas que precisam para sobreviver em conjunto. De algum modo elas distribuem e consumem o que produzem. O modo como elas produzem e distribuem as riquezas é que vai variar.

E é esta estrutura que determina como os indivíduos vão agir. Ou seja, como a sociedade produz suas riquezas que vai determinar tudo, inclusive o modo como as pessoas serão.

Por exemplo: uma sociedade industrial que nem a nossa, vai produzir indivíduos que são agitados e vivem na correria. Uma sociedade agrária vai produzir uma vida mais tranquila. Aquela vidinha morna no interior.

ELIAS – UM CONCEITO DE SOCIEDADE
Estas noções de sociedade são muito boas, mas não conseguem responder quais os limites e as áreas de abrangência da sociedade. O sociólogo alemão Norbert Elias traz um conceito interessante do que seria a sociedade e as instituições sociais.

O que é sociedade para Elias? Os indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de muitos tipos: família, aldeia, cidade, estado, nações. Essa rede de relações são as estruturas sociais, que podem coexistir, dependendo da configuração.

O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em agrupamentos maiores. As sociedades não têm fronteiras e limites especificáveis, pois as cadeias de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes.

Desse modo, a relação entre o indivíduo e as estruturas sociais deve ser analisada e concebida como um processo. Ou seja, "estruturas sociais" e "indivíduo" (ou seja: "ego" e "sistema social") são aspectos diferentes, mas inseparáveis, cuja análise deve recair sobre as teias de interdependência humanas que formam as configurações sociais.

Desde o início de suas vidas os homens existem em interdependência; e uma parte da teia de interdependência tem origem nas necessidades biológicas dos seres humanos, que desde os primeiros momentos de suas vidas necessitam dos cuidados e da atenção dos próprios pais.

Entretanto, uma grande parte das teias de interdependência advém de necessidades recíprocas, socialmente geradas, tais como a divisão do trabalho, a competição, as ligações afetivas, entre outras.

A teoria do Norbert Elias diz que caminhamos cada vez para uma maior interdependência - e olha que ele nem chegou a conhecer a internet, que nos faz cada mais conectados em rede ainda. Quando vivíamos no campo as pessoas se relacionavam de maneira interdependente com um número restrito de pessoas.

Hoje em dia tem toda uma cadeia produtiva nas cidades, onde cada um exerce uma pequena coisa, uma pequena função, ajusta um parafuso das milhares de coisas que lidamos todos os dias. Uma bolacha comprada move uma linha da teia que vai do cara que criou a sacolinha do supermercado, ao padeiro, ao motorista do caminhão, ao dono do supermercado, ao gerente de compras, ao supervisor de qualidade, ao agricultor que plantou, a filha do agricultor que tirou a soja e por aí vai.

Falamos normalmente sobre a família, a sociedade, o indivíduo na sociedade, mas sem nos darmos conta que somos parte disso. A sociedade, assim como qualquer estrutura social, não pode ser posta a par dos indivíduos. Ela é composta por eles (por nós). Os indivíduos não são rodeados pela família, escola, indústria, estado, ou seja, pela sociedade, como se estivessem no centro de um círculo. O indivíduo é parte de tudo isso. Não é que as estruturas não existam. Mas tudo o que existe no mundo, inclusiva as estruturas, é construído e reconstruído continuamente pela ação dos indivíduos.

SOBRE O PAPEL DA SOCIEDADE NO INDIVÍDUO E DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE
Bom, falamos sobre uma teoria do que é a sociedade. Agora vamos pensar qual é afinal o papel que a sociedade exerce no indivíduo?

Bom, quando nascemos, nascemos em um mundo que já está dado. Já existem costumes, regras, escolas. E tudo isso vai moldar como nós vamos ser. A família vai dizer quais valores são importantes, dizer se vamos para tal religião, se vamos comer carne ou ser vegetarianos ou se vamos ver mais TV ou ler mais livros.

Claro, isso já foi mais forte. Antigamente a tradição decidia tudo isso. Não tínhamos escolha. Hoje, podemos escolher. Se nascemos numa família vegetariana, não necessariamente seremos vegetarianos. Mas até crescermos e podermos escolher, não vamos comer carne. Dependendo se os nossos pais nos criam numa comunidade vegetariana, sem contato com o mundo exterior, é provável que reproduzamos a tradição. Então neste sentido, a sociedade que vai moldar as nossas escolhas. E os indivíduos vão interiorizar isso. O que nossos pais dizem para nós (como mostra Freud), vamos levar pra vida toda, lá no nosso inconsciente. E as coisas que nós acreditamos, nossas crenças, vamos agir de acordo com elas. Vamos exteriorizar o que sentimos agindo. Claro que há uma diferença entre pensar, sentir e agir. Assim, as coisas vão sempre se modificando.

Então, qual o papel que o indivíduo exerce na sociedade? Ele é só essa coisa que obedece a sociedade? Não. Sabemos disso. Fazemos nossas escolhas, vamos contra a sociedade de vez em quando. Como o Weber disse, a sociedade não existe sem os indivíduos e aquilo que dá sentido à sociedade. Qual a diferença entre um prédio comum e um escritório de trabalho? É o sentido que as pessoas dão, o que elas fazem lá dentro.

As teorias evolucionistas mostram isso. O que elas dizem? Que o indivíduo humano que iniciou a sociedade. Foi uma mutação em indivíduos que se organizaram e “fundaram” a sociedade, de algum modo. Claro, que pensamos assim também porque a nossa sociedade nos dá oportunidade de pensarmos de outro modo. É uma sociedade complexa, que nos permite fazer escolhas. Se não fosse assim, poderíamos mudar?

Sim. Porque nem sempre foi assim. Como vocês acham que a sociedade mudou para chegar no ponto em que chegou? Como funciona isso? A sociedade existe antes de nós indivíduos. Nascemos no mundo e só agimos racionalmente nele depois de um tempo, correto? Mas ao mesmo tempo, a sociedade só existe se é internalizada pelos indivíduos. Se eles creem que tudo está certo e reproduzem agindo. A ação, nem sempre corresponde ao que pensamos, ao que queremos. Sempre escapa do nosso controle quando agimos coletivamente. Os indivíduos são sujeitos capazes de cognição e que possuem um considerável conhecimento das condições e das consequências do que fazem em suas vidas cotidianas. Mas não podemos controlar o mundo.

A sociedade é como uma gota d’água. Ela é a junção de duas moléculas de H e uma de O. Mas se tu separar o H do O, vão surgir duas coisas diferentes. E a água é não é a soma simplesmente das características de H e O. É uma terceira coisa. Já a sociedade depende do que internalizamos. Somos nós que a produzimos. Mas nunca do jeito que queremos. É sempre algo diferente que se cria, porque é diferente do eu ou tu pensamos individualmente. É uma terceira coisa. E vai sempre se modificando conforme vamos agindo. Ela depende da nossa subjetividade. Se não cremos juntos que somos uma sociedade, somos simplesmente um monte de gente reunida. Como um sagu. Sem o suco de uva que nos una, somos apenas aquelas bolinhas brancas.

Ocorre que muitas coisas que fazemos, o realizamos sem reflexão. Como ir pegar o ônibus, por exemplo. Quem nunca pegou o mesmo ônibus todo dia e quando mudou acabou pegando um errado ou quase isso. Ou então bateu com a canela numa mesinha que não estava ali porque estava acostumado sem aquilo ali? É a rotina. Se nós tivéssemos que refletir e pensar racionalmente sobre tudo o que fazemos, ficaríamos loucos. Já pensou ter que escolher entre todas as coisas do supermercado? Analisar tudo? Se não fosse os gostos e as preferências já pré-determinados seria impossível lidar com tanta informação.

Assim como a estrutura existe. Mas ela não existe assim. A cultura, por exemplo. É uma estrutura social. Mas não podemos pegar a cultura, por mais que ela apareça em objetos e nas pessoas. Um exemplo é uma faculdade. O que é uma faculdade, é um prédio? Não. Existem pessoas. Mas um prédio com pessoas não é uma faculdade. Pode ser milhões de coisas. Existe um sentido, que é mais do que o que as pessoas vão fazer lá. Vão estudar, pode ser outra coisa. Uma escola ou uma biblioteca. Pra ser uma faculdade, tem uma série de sentidos. É isso que é a sociedade.

Redação: O que vocês acham, pequenos gafanhotos:
Na sociedade em que vivemos (Brasil, Porto Alegre, 2012), o indivíduo prepondera sobre o coletivo ou o coletivo sobre o indivíduo? Até que ponto vocês acham que nós somos determinados pela nossa sociedade ou pela nossa condição social? Qual o limite da ação individual sobre o coletivo? Vocês acham que algumas pessoas tem mais liberdade do que outras?

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