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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Etnocentrismo / Relativismo Cultural parte 1

O que é Etnocentrismo?

Ao longo de nossa vida, não somente escolar, começamos a nos relacionar com diversos grupos sociais. Primeiramente, estamos em um núcleo fechado, como a nossa família, e posteriormente vamos abrindo e diversificando nossas relações sociais. Pois bem, a partir de relações mais fechadas ou mais abertas, conseguimos pensar sobre as diferenças entre os espaços culturais em que vivemos.
No entanto, mesmo com certa diversificação de nossas relações, ainda sim, agimos de forma discriminatória quando vemos padrões de comportamento diferentes de nossos valores e crenças. Por exemplo, quando estamos comendo e chegamos a fazer algum barulho como eructação, o famoso "arroto”. Para muitos é tido como ofensa ou motivo para brincadeiras, mas em outras culturas é visto como sinal de satisfação frente aos convidados no momento de alguma refeição.
O exemplo anterior, obviamente, foi colocado de forma a analisarmos como, invariavelmente, enxergamos os atos de outras pessoas através de nossa cultura, ou seja, consideramos o nosso estilo de vida como o mais importante, o mais correto, o mais “natural”. Assim, já temos a noção de como podemos conceituar o Etnocentrismo, sendo uma prática de delimitar, diferenciar o nós e os outros, onde o centro da humanidade restringe-se à comunidade local, desconsiderando a prática de outros grupos sociais.
Vamos analisar o poema de Fernando Pessoa, “Como é Por Dentro Outra Pessoa?”

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo, com que não há comunicação possível,
Nem há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma, senão da nossa.
As almas dos outros são olhares, são gestos, são palavras,
Supondo-se qualquer semelhança no fundo.
Entendemo-nos porque nos ignoramos.
A vida que se vive é um desentendimento fluido,
Uma média alegre entre a grandeza que não há
E a felicidade que não pode haver.
Fernando Pessoa

Através deste poema, conseguimos analisar a dificuldade de compreendermos entes de nossa mesma cultura. Por isso, buscamos através do conceito Etnocentrismo entender como pessoas com valores culturais diferentes do nosso agem, se expressam e que nossos padrões culturais são apenas mais um dentre os diversos grupos que compõe nossa sociedade.

Relativismo Cultural em contraposição ao Etnocentrismo

No entanto, devemos ter em mente que o Etnocentrismo não é algo abstrato, nebuloso, ou que ele se pratica somente relacionando povos diferentes. O Etnocentrismo é uma forma de preconceito praticado por um determinado grupo social ou comunidade frente a indivíduos que não dispõem dos mesmos valores e costumes. Como exemplo, temos o site de notícias fictício “O Bairrista”, onde a cultura gaúcha é sobrevalorizada frente às demais que compõem o Estado brasileiro. Óbvio, se trata de uma sátira frente a jornais periódicos do estado do Rio Grande do Sul, que valorizam as práticas e costumes de um determinado grupo social em relação aos demais; mas serve para relacionarmos e conceituarmos a nossa posição frente à diversidade dos grupos sociais existentes em nosso país.
Fora a questão do bairrismo, temos o sexismo, preconceito racial, social, intolerância religiosa, ou seja, a subvalorização de grupos que diferem sob determinado ângulo a um padrão de valores de outros setores da sociedade. Logo, como podemos fugir deste estigma que é universalmente exposto, ou seja, da crença que a própria sociedade/comunidade é o centro da humanidade?
Para esta questão buscamos desenvolver o conceito de Relativismo Cultural, que nada mais é do que compreender a diversidade humana. Assim, deixando de lado a noção de bom ou ruim, mas considerando como diferentes os diversos costumes e valores aos quais não estamos acostumados. Assim, as culturas são múltiplas, variadas, tendo distintos modos de caracterizar “o ser humano” em um determinado espaço e tempo.
Além de termos a noção de diversidade cultural, devemos considerar que as culturas não condizem com um status ou são estratificadas (classificadas). Portanto, não existe uma cultura mais desenvolvida que a outra, mas temos costumes, crenças e valores diferentes que caracterizam, mas não devem discriminar outros padrões culturais.
Assim, é de suma importância que consigamos relativizar nossa posição frente aos diversos padrões que estão inseridos em nossa sociedade. Relativismo Cultural é muito mais que considerar a cultura de outro grupo social, mas é respeitar o Outro de forma plena.



Crash - No Limite (2004) , filme dirigido por Paul Higgis

Dica: Um filme interessante para compreendermos melhor o Etnocentrismo chama-se Crash - No Limite (2004). Neste filme, temos uma sociedade marcada pelo preconceito multicultural, no caso entre brancos, negros, muçulmanos, latinos, ricos e pobres. Assim, diversas relações marcadas pelo preceito do racismo na sociedade norte-americana são expostas sobre os mais variados pontos de vista que estão no enredo do filme.

Bibliografia:
- Laraia, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito Antropológico. 24.ed. RJ: Zahar, 2009. 117 p.
- Boas, Franz. Antropologia cultural. 6.ed. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, [2010]. 112 p.

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