Páginas

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Gabarito 4º dia - SIMULADO II - 2012

Já saiu o gabarito do 4º dia do SIMULADO II da ONGEP de 2012.
Confiram as respostas abaixo:


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Gabarito 3º dia - SIMULADO II - 2012

Atenção para o Gabarito do 3º dia do SIMULADO II - 2012 da ONGEP!


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Gabaritos SIMULADO II - 2012

Atenção galera, como estou sem acesso ao blog oficial da ONGEP, o blog da sociologia na ONGEP vai divulgar antecipadamente os gabaritos do SIMULADO II - 2012.

Segue abaixo:


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As mudanças no mundo do trabalho

O vídeo abaixo mostra muito bem as mudanças no mundo do trabalho (extrapolando, bem verdade, o mundo do trabalho) que vem ocorrendo nos últimos anos. O único grande defeito é que idealiza demais o momento atual, que é um momento de libertaçao das estruturas burocráticas do trabalho industrial, mas que, ao mesmo tempo, é um momento de precarizaçao do trabalho e de insegurança. Como complemento a este vídeo, recomendo a leitura do livro A cultura do novo capitalismo (leia um resumo aqui), de Richard Sennett, que retrata mais fielmente as mudanças no mundo do trabalho ocorridas mais recentemente.

All work and all play (legendado) from Box1824 on Vimeo.

A História dos Direitos Humanos

Belo documentário sobre direitos humanos produzido por United for the Human Rights.

www.humanrights.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Alguns “ismos” das Ciências Sociais

por Januário Francisco Megale

Comunismo, epicurismo, estoicismo, cristianismo, historicismo, capitalismo, socialismo, imperialismo, funcionalismo, marxismo, cientificismo etc. são alguns dos inúmeros "ismos" das ciências sociais. O que vem a ser um "ismo"? Há várias acepções, conforme a área ou ramo de conhecimento. Assim, dogmatismo, ceticismo, subjetivismo, relativismo, pragmatismo e criticismo referem-se a posições assumidas ou idéias aceitas sobre a possibilidade do conhecimento. O dogmatismo defende que não existe o problema do conhecimento enquanto relação entre sujeito e objeto. As coisas existem pura e simplesmente, o jeito é acreditar. O ceticismo e o extremo do dogmatismo e afirma que o sujeito não pode apreender o objeto, daí o conhecimento ser impossível. Já o subjetivismo e o relativismo limitam a validade do conhecimento ao sujeito. Toda verdade é relativa, não há verdade absoluta. Para o pragmatismo, o conhecimento ou a verdade significam utilidade, valor, prática. Numa posição diferente, o criticismo admite o conhecimento, mas sob reserva. Não é dogmático nem cético, mas reflexivo e crítico. Para cada um destes “ismos” houve ilustres filósofos com suas obras clássicas. Além destes “ismos” há outros, referentes ainda ao conhecimento, sobre sua origem e sobre sua essência.

Na ciência política, por exemplo, há alguns "ismos" bem gerais e outros mais particulares ou específicos, como por exemplo, colonialismo, imperialismo, comunismo e bonapartismo, chauvinismo, bolchevismo. Afinal, o que vem á ser um "ismo"?

O "ismo" é uma posição filosófica ou científica que sustenta algo sobre uma idéia, um fato, um sistema, uma política, um programa, uma circunstância etc. É uma idéia central a nortear o adepto perante o mundo ou em face de determinadas coisas. É um método ou conjunto de valores, é um principio ou conjunto de princípios explicativos sobre alguma coisa ou algum fato. É uma filosofia ou um modo de ver o mundo ou determinado problema. Há tantas definições de "ismos'" quase quantos "ismos" há. Cada um tem seu contexto histórico em que surge e se desenvolve Ocorre, muitas vezes, que, após passar a ser moda ou um sistema de idéias dominante, o "ismo" cai no ostracismo. Mais tarde, pode ressurgir, como o liberalismo, que após quase cem anos, volta ao cenário das idéias da política econômica de vários países, chegando até nós, com a inauguração no Rio de Janeiro do Instituto Liberal, em 1983, com outros similares em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e outras capitais. Há ainda os "ismos'" apenas históricos, que tiveram seu tempo e hoje estão ultrapassados, continuando vivos apenas para compor o contexto histórico-social de um passado próximo ou remoto, do qual somos herdeiros como civilização e como cultura.

A inclusão deste capítulo neste roteiro de estudo tem tríplice objetivo. Primeiro, mostrar ao aluno que todo "ismo" é sempre parte de um conjunto, parte de um processo no qual surge e se desenvolve, podendo continuar ou ser substituído. Nada é gratuito nem fortuito na realidade social. O "ismo" tem raízes e se desenvolve sempre vinculado a uma filosofia da história ou a uma explicação pragmática do momento. Quase nunca é resultante só de um fato, mas engloba a realidade como um todo cultural. Segundo, além desta característica totalizante, é oportuno lembrar que nem todo "ismo" surge como resposta antagônica ou como guerra a outro ou a qualquer teoria anterior, embora isto tenha ocorrida. Há "ismos" bipolares, opostos, mas são bem menos numerosos que os outros. Há alguns, que derivados de outros, guardam sua essência, mas diferem na aplicação, no programa, na aceitação teórica ou na posição metodológica. Terceiro, há "ismos" que passam para a história como verdadeiras, piadas ou erros grosseiros, e, pior ainda, se perpetuam em livros didáticos. Cuidado, alerta: são as palavras de ordem diante do cipoal teórico das ciências sociais em tantos livros devorados por mestres e alunos. Na listagem a seguir são mencionados alguns ismos que se encontram nesta situação.

De modo algum esta relação é completa, não temos nada de completo neste roteiro, pois estamos tratando de generalidades, de miscelâneas, com nenhum compromisso com profundidade neste momento. Trata-se apenas de uma primeira aproximação.

 Anarquismo

O termo guarda o sentido etimológico: sem governo. Doutrina que defende uma sociedade livre de todo domínio. Significa libertação de qualquer dominação superior, de ordem ideológica (religião, doutrina política), de ordem política (estrutura de poder hierarquizada, de ordem econômica (propriedade dos meios de produção), de ordem social (classe ou grupo social), sindicato; clube, associação), de ordem jurídica (leis e normas). O sentimento geral pela liberdade individual é transporto para a sociedade e encontra no anarquismo forte aliado. O pensamento anárquico surge no final do século 18, com a obra de William Godwin: Enquiry concerning political justice. A bandeira do anarquismo (recusa da autoridade e da lei) está lançada nesta obra. Dentre os pensadores políticos que abraçaram o anarquismo, temos Proudhon, Bakunin, Malatesta, Stierner, Kro­potkin.

Autoritarismo

 Nas ciências sociais o termo tem dois sentidos: Primeiro, comportamento ou personalidade autoritários, tendo como área de investigação a psicologia. O livro clássico é A personalidade autoritária, de Adorno. Segundo, ideologia ou visão que preconiza os métodos autoritários sobre os liberais. O autoritarismo se aproxima do totalitarismo. Permite práticas liberais conquanto sujeitas ao controle da disciplina e da hierarquia. Emprega algumas medidas excepcionais do totalitarismo mas não seus princípios.

 Bonapartismo

 A expressão tem duplo significado. O primeiro, referente à política interna, com origem em Marx (O dezoito Brumário de Luís Bonaparte), expressa a forma de governo na qual o executivo concentra todo o poder em sua liderança carismática, como representante direto da nação, e árbitro imparcial perante todas as classes. O segundo, no sentido de política externa, tem um componente de expansionismo com duplo objetivo; além da expansão territorial, traz o objetivo de consolidação do regime de governo contra a oposição de grupos radicais. Visa a fortalecer o grupo dominante e enfraquecer os adversários internos. Neste sentido tem sido usado por historiadores alemães, como Meinecke e Fischer, para explicar a política externa da Alemanha guilhermina e nazista. O despotismo do poder bonapartista encontra sua válvula de escape contra pressões internas na política externa.

 Capitalismo

Sistema econômico que se fundamenta em alguns princípios, como:

1) propriedade privada dos bens ou meios de produção;
2) economia de mercado ou livre-câmbio, recusando qualquer limitação ao mercado;
3) utilização da tecnologia sempre renovada na produção;
4) racionalização do direito e da contabilidade em função dos princípios acima;
5) liberdade de trabalho e relações capital-trabalho reguladas pelo mercado;
6) comercialização da economia com vistas ao lucro. O capitalismo defende uma economia livre, não centralmente planificada.

É a liberdade na produção. O Estado não interfere senão para barrar aberrações contra tais princípios. O liberalismo tem sido fortemente vinculado ao capitalismo. Só vigora em países cujo regime pol político é também aberto, livre e democrático. A ética protestante contribui para o avanço do capitalismo através de suas normas de vida, como muito trabalho, pouco consumo, vida simples e muita poupança reinvestida. São muitos os autores clássicos do capitalismo como também os de seus inúmeros subterras. Desde Sombart, Weber, Schumpeter, até Galbraith, Hayek, Myrdal e outros contemporâneos.

Clientelismo

 Com origem na antiga Roma; clientela designava a relação entre indivíduos de status inferior, mas que viviam na comunidade, protegidos pelos chefes de família. Relação de dependência econômica e política entre o chefe e o cliente numa fidelidade recíproca. O clientelismo vigorou de maneira dominante na política brasileira da Velha República (1889-1930), sob o domínio das oligarquias rurais. O livro nacional que bem descreve o clientelismo é Coronelismo, Enxada e Voto, de Vitor Nunes Leal.

 Comunismo

É um regime político e um sistema econômico fundado em alguns princípios, entre os quais citam-se:

1) o trabalho é a única fonte do valor;
2) o capital é um contínuo roubo ao trabalho;
3) o capitalismo é um sistema que leva a sociedade a uma crescente proletarização;
4) o proletariado (classe trabalhadora) conduzirá a sociedade a uma nova forma de regime político e econômico;
5) para garantir e apressar a retórica do proletariado, é necessário e urgente criar a consciência de classe.

Surgiu na Europa no século 19 e tem em Marx, Engels e seus seguidores sua fundamentação teórica bem estruturada. O Manifesto do Partido Comunista é a carta magna do comunismo. Como modo de produção está superado para o futuro. O comunismo primitivo é outra coisa bem diferente, cujos resquícios conhecemos através da antropologia, nas sociedades tribais, ágrafas, primitivas ou selvagens, como nossos índios não-aculturados. Desde Marx e Engels não cessa de crescer os apologistas tanto do capitalismo como do comunismo.

 Determinismo (e Possibilismo)

Há vários determinismos; tratamos aqui do geográfico e, en passant, do econômico. O determinismo econômico é um item ou tópico de importância secundária no conceito de modo de produção e seu componente inseparável de infra-estrutura. Digo de importância secundária porque o determinismo econômico de Marx sofreu diversas interpretações no correr do tempo. Marx não era tão determinista (ou mesmo marxista) como seus intérpretes e seguidores. O determinismo geográfico tem raízes profundas na história. Já Hipócrates (século V a.C.) assinalava em Dos ares, das águas e dos lugares o caráter determinista dos fenômenos físicos sobre o comportamento humano. O mesmo ocorreu com Montesquieu em Do espírito das leis (1848), sobretudo com o clima como fator determinante do caráter do povo.

 “Dê-me o mapa físico de um país, ... que lhe direi, a priori, qual região será relevante na história, não por acidente, mas por necessidade.”

 A afirmação acima, de Victor Cousin retrata bem o significado do determinismo geográfico. Imputado a Ratzel; como grande divulgador desta teoria, o determinismo teve grande divulgação como posição doutrinária da geografia alemã, em oposição à geografia francesa, o que não corresponde à verdade. A leitura de Antropogeografia, de Ratzel, mostra o ledo engano desta tese difundida ainda em livros didáticos. Vidal de la Blache e a geografia francesa surgiram como divulgadores do Possibilismo em oposição ao determinismo geográfico alemão. O possibilismo defende a possibilidade da ação humana sobre o meio físico, sobretudo com o avançar da técnica. Esbarra com a ecologia que combate o crescente rompimento do equilíbrio ecológico. Desde Haeckel e Sorre a ecologia tem sido tema estreitamente ligado à geografia, fazendo parte de sua natureza ou sua essência. A rivalidade entre a França e a Alemanha de então, com a derrota francesa na guerra franco-Prussiana (1870), e a reconhecida superioridade da geografia alemã fizeram com que surgisse esta vinculação do determinismo à geografia alemã e do possibilismo à geografia francesa.

O possibilismo não deve ser confundido com possibilidades (ou oportunidades) de vida – Lebenschancen ou life-chances – tema ligado à mobilidade social, tratado por Weber (Economia e Sociedade, 1922) na área da sociologia.

Outra acepção do possibilismo é a de determinismo cultural, tão divulgado na antropologia do século XIX, a designar o crescimento regular da cultura ou o condicionamento cultural. Os dois clássicos do tema são A antiga sociedade (1877) de Morgan, e A origem da família, da propriedade privada e do Estado (1884) de Engels.

Esquerdismo

O vocábulo tem dupla origem. Primeiro, a palavra skaios (em grego, esquerda). Segundo, no parlamento francês os oposicionistas (jacobinos) ocupavam as cadeiras do lado esquerdo (la gauche). É a posição política que luta por reformas políticas, sociais e econômicas profundas ou por meio de processos violentos, até mesmo da revolução. A esquerda geralmente representa uma força social revolucionária, às vezes reformista; nunca, porém, conservadora ou reacionária contra as quais luta com denodo. O conceito se baseia na simetria espacial. É uma forma simplista de classificar pessoas e regimes políticos. Termo utilizado pela linguagem jornalística, pela linguagem oral, e até mesmo pela linguagem acadêmica, mas com elevado grau de imprecisão. Aqui também há clássicos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

domingo, 8 de julho de 2012

O Direito Constitucional de Ler


Querid@s ongepian@s.... É tempo de ler... Ler, Ler e Ler... Essa é uma das dificuldades quanto a entrada ao vestibular. O gosto pela leitura é algo extremamente difícil e complicado. Digo isso por experiência própria, pois o primeiro livro que li foi quando peguei o Código DaVinci de Dan Brown, isso aos 18 anos de idade. No entanto, apenas tomei o "gosto pela leitura" quando comecei a encarar o livro sob outro enfoque... Não o de compromisso, frieza, imposição. Não, mas foi quando o livro passou a tornar-se algo além de algumas folhas escritas sobre papéis. Sentimento puro, Sabe... Algo arrebatador. 
Por isso, proponho que vocês leiam este artigo de Nikelen Witter sobre o escritor Argentino chamado Mempo Giardelli, que está lançando o livro Voltar a Ler: Propostas para ser uma Nação de Leitores. Nele, Mempo faz uma análise sobre uma Argentina leitora que se esvaziou nos porões da Ditadura, principalmente, pelo Governo Autoritário considerar a Escola como sendo algo perigoso. No entanto, os Governos democráticos atuais tem na visão sobre a Escola a formação do ser humano não como trabalhador, em sua relação íntima, integrada e contextualizada ao trabalho, mas como meros consumidores.
E no Brasil? Temos esse problema? Será que estamos na mesma situação que a Argentina?
Porém, muito mais que analisarmos o contexto argentino e o brasileiro, quero que vocês reflitam sobre o conceito que vocês tem sobre o livro. "Qual é a minha relação com o Livro?", uma pergunta na qual devemos fazer além da mera obrigação para o Concurso Vestibular, mas para uma condição de Reflexão e Liberdade ao contexto em que estamos inseridos...
Uma ótima semana a tod@s..... e boa leitura.....
Fellipe Madeira
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O Direito Constitucional de Ler 
(Nikelen Witter*)
O escritor argentino Mempo Giardinelli é um utopista. Nenhuma crítica minha no uso deste termo. Vivemos um tempo de superação das utopias que aspiravam à perfeição e que, por conta disso, poderiam levar à frustração e ao autoritarismo. Prefiro pensar nas utopias como propôs Ernst Bloch, como um princípio de esperança. Sendo assim, gosto imensamente de utopistas. Imagino-os como cartógrafos de territórios ainda não mapeados ou conquistados. Os utopistas nos dão um norte, uma busca, traçam os planos de nossa próxima aventura. Como o Quixote, amado por Mempo, os utopistas olham os moinhos de vento e os enfrentam, junto com o temor próprio de assaltar algo muito maior que si mesmo. Os utopistas são ainda mais importantes num mundo mergulhado nas imagens distópicas como o que vivemos. Não nos faltam anunciadores do apocalipse. Faltam-nos, porém, os que olham o futuro com um realismo otimista, não por acreditarem que as coisas simplesmente se resolverão, mas por ousarem imaginar, agir e criar metas.

Mempo Giardinelli: "Os processos ditatoriais e sua ação criminosa sobre a educação de suas populações" | Foto: Divulgação
Voltar a Ler: Propostas para ser uma nação de leitores é uma obra que encarna os sonhos de Mempo Giardinelli, levando-nos a sonhar junto. Mais que isso, há nela um condão desestabilizador. Daquele tipo que nos faz levantar da cadeira com a vontade louca de fazer alguma coisa, qualquer coisa. É fácil a bandeira de Mempo tornar-se a nossa, suas palavras são convincentes, falam à alma, falam a estrutura básica, especialmente, daqueles que já são leitores. No caminho traçado por suas palavras, o escritor não se abstém de incomodar governos, pais, professores, chamar culpas, sejam próprias sejam impingidas pelo mundo em que mergulhamos nesta virada de século.

Leitura pública de Charles Dickens: "Estudantes de graduação e pós-graduação que reclamam do tamanho dos textos que têm para ler"
O olhar de Giardinelli sobre a Argentina chama atenção sobre um problema que atingiu a América Latina como um todo nas últimas quatro décadas do século XX: os processos ditatoriais e sua ação criminosa sobre a educação de suas populações. Onde ela não existia não se desenvolveu; onde já tinha raízes foi podada; onde já era árvore foi assassinada na base do serrote da violência profissional e da intolerância e restrição dos programas educacionais. O fato é que a reconquista democrática ainda não conseguiu retomar este terreno fundamental e, com isso, tudo o que alcançamos foi uma democracia capenga. “O triunfo ideológico das ditaduras foi tão grande que ainda estamos pagando por ele”, diz Mempo. Se os governos ditatoriais trataram a educação como um inimigo a ser combatido; os novos governos democráticos pecam, na visão do autor, por verem a educação como um programa para a criação de trabalhadores para o mercado, não somente o de trabalho, mas, principalmente, o de consumo. Este último, como sabemos, se alimenta justamente do processo irreflexivo ingestão de “ofertas”. Sendo assim, a educação passou a ser pautada em metas quantitativas e a busca dos números positivos tornou-a funcionalista e, logo, facilmente permeável a posturas retrógradas, que contribuem para eliminar-lhe a liberdade e a criatividade. O ponto mais desmerecedor de toda esta estrutura, para Giardinelli, é o fato desta educação não basear-se na leitura, mas, tão somente, em fazer uso dela como uma escada para alguma outra coisa. Se a educação é para o mercado e não para as pessoas, a leitura nela prevista é a leitura feita por dever, para que se alcance algo: uma nota, um cargo, um salário.

A edição brasileira do livro de Giardinelli
A retomada da Argentina como uma sociedade leitora
O livro foi escrito com o objetivo de propor, de forma prática, dentro e fora das instituições, a retomada do caminho da Argentina como sociedade leitora. As propostas descritas, além de implementadas pela ONG criada por Mempo Giardinelli, foram acolhidas pelo estado argentino, passando a compor tanto a Lei Nacional de Educação, quanto o Plano Nacional de Leitura (PNL) daquele país. Sua publicação no Brasil, em 2010, pretendeu, da mesma forma, socializar a experiência dos hermanos e demonstrar o uso destas ideias também para o Brasil.
Nunca fomos uma sociedade leitora. A leitura na história do Brasil, quase sempre, manteve-se em guetos elitistas, inacessível, cara, particularizada.
Contudo, mesmo com as semelhanças da época em que se vive e da experiência ditatorial, o cenário argentino difere em muitas questões do brasileiro, daí o fato de alguns conceitos desenvolvidos por Mempo precisarem de uma reflexão maior e aplicada. Um deles é o conceito de resistência cultural proposto pelo autor e que ele aplica a uma Argentina que já foi leitora e se perdeu (apenas no meio do livro é que ele faz a ressalva da necessidade de se relativizar os dados mais antigos e não idealizar a sociedade leitora de outrora). De qualquer forma, se pensarmos em nossa percepção da Argentina, nós também a idealizamos como uma sociedade bem mais leitora que a nossa. Uma nação que, em algum momento de sua história, quase erradicou o analfabetismo, um feito que, para o Brasil, ainda é uma meta a alcançar. E uma meta tristemente menos próxima do que desejaríamos.

"Ler muito deixa louco, ler é coisa pra rico, ler pra quê?" | Imagem: Isaac Israëls, Girl reading on the sofa (1920)
E aí está nossa principal diferença. Nunca fomos uma sociedade grandemente leitora. A leitura na história do Brasil, quase sempre, manteve-se em guetos elitistas, inacessível, cara, particularizada. Nossa cultura mantém ainda a sensação de que os livros não são para todos. No interior do Rio Grande do Sul ainda se pode ouvir ditos como: ler é coisa de vagabundo, ler muito deixa louco, ler é coisa pra rico, ler pra quê? Isso sem falar nos estudantes de graduação e pós-graduação que reclamam do tamanho dos textos que têm para ler; dos jovens do ensino médio que aprendem por polígrafos cheios de fragmentos e nunca textos completos; por crianças que jamais aprendem a ler em voz alta e acreditam que compreender um texto é responder o questionário do professor copiando trechos ou respostas que “agradem”. Nossa palavra chave, diferente da proposta de Mempo, talvez não seja de resistência, mas de conquista. E o caminho é igualmente árduo, ou quiçá, ainda mais.
Para que se quer uma sociedade leitora?
Ainda assim, as propostas de Voltar a ler podem e devem ser lidas como propostas para iniciar a ler; e muito se pode aprender com a experiência argentina. Neste caso, vale destacar o PNL argentino conseguiu entre 2006 e 2009 aumentar em 24 pontos a capacidade de compreensão leitora dos jovens escolares. Entretanto, antes de tudo, cabe a pergunta: para que se quer uma sociedade leitora? Esse é o tema da primeira parte do livro, cuja paixão e a ênfase podem nos fazer acreditar que nele estão algumas contradições com as ponderações posteriores da obra. O fato é que não se pode dizer tudo de uma única vez e, em especial, o primeiro capítulo tem um tom quase de manifesto, deixando para os outros as avaliações e propostas de ação mais estruturadas. Como manifesto – mais que suas possíveis contradições – é necessário que se atente para a beleza do sonho de um país de leitores.
A leitura deve tornar-se prazer, desejo, momento. Mais que tudo, a leitura deve ser sinônimo de liberdade e não de imposição.

Mempo: "A leitura deve ser desvinculada do dever" | Foto: Divulgação
O primeiro ponto a ser encarado pelos poderes públicos – na visão do autor – é que um tipo de ação é construir a importância da leitura na sociedade. Isso, diz Mempo, a Argentina já domina (o Brasil também, em parte). No entanto, é preciso ultrapassar a construção da importância da leitura para construir a leitura propriamente dita. Para isso, sugere, a leitura deve ser desvinculada do dever, dos números, das progressões. A leitura deve tornar-se prazer, desejo, momento. É coletiva quando partilhada e ouvida. É pessoal e intransferível quando silenciosa e eletiva. Mais que tudo, a leitura deve ser sinônimo de liberdade e não de imposição. A leitura se faz para o sujeito e não para o mercado. Aliás, este é o grande erro da educação que se tem proposto aos nossos filhos e alunos.
O autor chama nossas gerações adultas à responsabilidade dentro e fora das escolas. Não é apenas o modelo educacional que deve ser criticado. A postura dos pais que se escoram na televisão como fonte única de contato das crianças com a imaginação. Os avós que deixam de contar histórias. A conversa que não se estabelece e que, por conta disso, não estimula a construção de narrativas entre gerações. A falta de tempo para a partilha do lido, do percebido, do imaginado. Resistir, diz Mempo. Nosso papel é resistir ao mundo que nos engole e manter vivo o espaço do ler e do narrar.

"A liberdade de produzir ideias próprias e de interpretar o mundo que nos rodeia" | Foto: http://www.blogdatricae.com.br/
Porque somos mais livres quanto mais somos capazes de ler.
Por quê? Porque somos mais livres quanto mais somos capazes de ler. Quanto mais ideias diferentes formos capazes de processar, melhor será nossa capacidade de produzir ideia próprias, originais, e não impostas pelo que é absorvido sem reflexão. Ler, define o autor, é uma ato de inteligência, um trabalho intelectual de interpretação do mundo que nos rodeia. Não é somente da ignorância que a leitura nos retira, mas da ingenuidade, da aceitação muda, da incapacidade de reagir, do pasmo diante dos acontecimentos, da inação castradora, punitiva e frustrante. Daí a importância em se pensar o acesso à leitura como um Direito Constitucional de cada cidadão. Ninguém pode ser despossuído deste que é um direito fundamental numa democracia: ser capaz de pensar por si, tomar decisões baseadas na consciência alimentada pela leitura e pela reflexão sobre ela e o mundo. Alienar um povo da leitura é torná-lo massa de manobra fácil, é jogá-lo no desamparo dos tiranos, é incapacita-lo de construir um mundo mais justo.
Concordo com sua postura de se colocar contra o paradigma do fim dos tempos, professado por tantos intelectuais que anunciam o fim dos livros, da leitura, da inteligência, da História.

Mempo: "Um processo de formação educacional voltado para o desenvolvimento da capacidade de ler" | Jessie Wilcox Smith "Books in Winter"
Aqui é possível que alguém critique a posição do autor e diga que esse processo não é automático. Que a leitura não tem todo esse poder. Meu contra-argumento é só um: se uma sociedade leitora não tem esse poder, muito menos o terá uma sociedade que não lê. A leitura é a possibilidade de fazer algo diferente do que temos. Sem leitura, não temos sequer essa possibilidade. E neste sentido, coloco-me inteiramente ao lado de Mempo Giardinelli. Da mesma forma, concordo com sua postura de se colocar contra o paradigma do fim dos tempos, professado por tantos intelectuais que anunciam o fim dos livros, da leitura, da inteligência, da História; que dizem que nada pode ser feito contra a as forças destruidoras da globalização e do mercado (bem entendido, que estas forças se combinam com coisas boas e benéficas, e que é preciso separar ao invés de aceitar ou rejeitar tudo). Aqui também o termo resistência é empregado. Resistência contra as forças derrotistas e alarmistas, contra os que se recusam a investir, contra os que colocam a culpa nas novas gerações e lhes retiram de antemão qualquer possibilidade de investimento e entendimento. Afinal, penso eu, conquistar os jovens leitores não é impor-lhes que sejam o que fomos, mas compreender o que eles querem ser e somar sem subtrair.
Pedagogia da Leitura
Assim, Giardinelli aposta na leitura como a base de uma educação erigida como razão e fundamento do estado democrático. Para isso, ele propõe uma Pedagogia da Leitura, ou seja, todo um processo de formação educacional voltado para o desenvolvimento da capacidade de ler.

"Ora, como poderão insuflar paixão e desejo por algo que lhes é, igualmente, um tormento?" | Anna Karina em Alphaville, de Jean-Luc Godard
O escritor também se coloca contra a culpabilização excessiva e exclusiva da televisão e das novas tecnologias que envolvem internet, jogos, interatividade e comunicabilidade. Para ele, uma sociedade formada na leitura terá menos interesse pela televisão de baixa qualidade e maior capacidade de seleção da programação. Da mesma forma, saberá utilizar como aliados todos os novos recursos tecnológicos, os quais, na maioria das vezes, têm a leitura como base da comunicação.
Sabemos que no Brasil temos uma boa quantidade de professores que não têm a leitura como um hábito de lazer. Eles também se ocupam dela como um dever, como uma obrigação a cumprir.
No entanto, aí se tem um novo problema, o qual, creio, ainda é parte importante do debate sobre a leitura. Qualquer leitura é válida, ou somente algumas leituras o são? Mempo acredita que é necessário relativizar a pergunta e as respostas, porém, ele acredita que quanto mais se lê mais se tem capacidade de discernir sobre a qualidade das leituras. Pessoalmente, eu acredito na capacidade da leitura de autopromover-se junto ao leitor. O início – HQs, livros simplificados, entretenimento – não determina o fim, pelo contrário, quanto mais rica a leitura, maiores são suas possibilidades. A leitura não fecha portas, abre. Todavia, fornecer os instrumentos de fomento e incremento da capacidade leitora é, sim, uma das tarefas mais importantes a serem assumidas pelo sistema educacional como um todo, função a qual os educadores não podem se furtar. Acontece que, da mesma forma que Mempo percebeu para a Argentina, sabemos que no Brasil temos uma boa quantidade de professores que não têm a leitura como um hábito de lazer. Eles também se ocupam dela como um dever, como uma obrigação a cumprir. Ora, como poderão insuflar paixão e desejo por algo que lhes é, igualmente, um tormento? Daí a necessidade primária de devolver aos professores sua dignidade profissional, pessoal e salarial, dando-lhes espaço e incentivo, bem como auxílio, para retomarem (ou incorporarem) a leitura em seu cotidiano de trabalho e vida.

Imagem de uma Maratona de Leitura na Argentina: unindo tecnologias com critério
A “sobre-educação” argentina
As análises de Giardinelli prosseguem em termos políticos e econômicos. Em uma de suas páginas mais dolorosas sobre a crise econômica Argentina da primeira década do século XXI, o autor cita a recomendação do Fundo Monetário Internacional de que a sobre-educação dos argentinos os fazia ter demandas incompatíveis com os novos tempos econômicos. A opção política e econômica mais viável – e aceita pelas autoridades argentinas – foi a do embrutecimento e do aprofundamento da ignorância. O triunfo da bestialidade deu asas ao aumento da violência, da depredação das escolas e de sua transformação em campos de concentração, com professores convertidos em carcereiros (ora agressores, ora agredidos) e alunos vigiados. A escola converteu-se num depósito, pois “estar aí, era melhor que estar na rua”. Qualquer semelhança com as escolas brasileiras, com certeza, não é mera coincidência. E então, eu me pergunto da validade desta frase. Afinal, se é esta escola que podemos oferecer, será mesmo o melhor? Pois, se a escola que se converte numa rua sem lei, onde impera a lei do mais forte e não da razão, terá sentido fingir que ali se promove educação?
A leitura precisa de projetos visíveis, continuados, que não dependam dos sabores e vontades de governos cambiantes.
É por conta disso, e apostando no poder da leitura e da narrativa como fontes de resistência e reivindicação, que Giardinelli convoca professores e pais e retomarem seus lugares de inspiradores das novas gerações, usando para isso, de uma Pedagogia da Leitura. Uma atuação direta de fomento, de contato, inspirada no próprio ato de ler, narrar e conversar. Este ponto do livro me foi muito interessante, pois me ajudou a formalizar algo que há muito me incomodava. Sempre tive um desconforto com o modelo campanhista que nos chega pela publicidade midiática e que parece ser o mais adotado pelo sistema brasileiro no caso da leitura. Posso estar equivocada, mas não consigo crer neste modelo como base para o fomento da leitura. As ações em prol da leitura não deveriam se basear em campanhas, mas em atos permanentes, numa pedagogia incorporada como atividade cotidiana. A leitura não funciona como um tipo de vacina, não se inocula a vontade de ler e se espera que ela se desenvolva. A leitura precisa de projetos visíveis, continuados, que não dependam dos sabores e vontades de governos cambiantes. Para isso, no entanto, é preciso que, definitivamente, se deixe de tratar – não estou falando do que se escreve ou diz, mas dos atos – a educação como um gasto e se passe a lhe dar o legítimo lugar de investimento no futuro do país.

Mempo: "Leitura e sonho para não definhar" | Foto: Divulgação
Ativismo pela leitura
As propostas de Mempo Giardinelli são factíveis e lúcidas. A segunda parte do livro é clara em detalhá-las. Algumas dependem da vontade dos governos, mas todas, antes de tudo, dependem da exigência dos cidadãos conscientes de que preciso fazer alguma coisa. De que é necessário assumir um ativismo pela leitura, pois ele é a base de todos os outros ativismos que buscam um mundo melhor e mais justo. Leitura e sonho são forças que se auto alimentam. Começamos como uma e desembocamos na outra. Separadas estas forças, estamos fadados a esmorecer e definhar.
O que cabe fazer aos que só pensam e refletem mas não têm soluções nas mãos nem possibilidades concretas de modificar a realidade? Minha resposta é: continuar sonhando e espraiar o sonho. Para isso servem os poetas. Seu destino, seu drama é sonhar o impossível, talvez um mundo melhor. Descrever infernos. Antecipar horrores. Conceituar o etéreo. Apreciar o oculto. Desvelar o insondável. Explorar o desconhecido. Criar essa alteridade que é a arte.”
.oOo.
Nikelen Witter é historiadora, professora e escritora.
Fonte: Sul21 (www.sul21.com.br)

Charge de Bill Charmatz

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crises do capitalismo (David Harvey)

Neste vídeo o renomado geógrafo inglês David Harvey apresenta uma explicação super didática sobre as crises do capitalismo, tendo em conta as repercussões da crise financeira mundial de 2008. Vale a pena conferir!

sábado, 16 de junho de 2012

Edição deste ano bate recorde de inscrições, com 6,4 milhões de candidatos


As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 chegaram a 6.497.466 candidatos, um recorde comparado ao número de inscritos da edição de 2011. Foram 275.769  inscrições a mais. O processo foi encerrado às 23h59 desta sexta-feira, 15 e aberto em 28 de maio. São Paulo (1.068.517), Minas Gerais (723.644), Rio de Janeiro (474.046), Bahia (458.101) e Rio Grande do Sul (394.641) são as unidades da federação com maior número de inscritos.

Feita apenas pela internet, a inscrição será confirmada após o pagamento da taxa de R$ 35, até o dia 20 próximo, por meio de guia de recolhimento da União (GRU) simples. Aluno de escola pública que esteja concluindo o ensino médio e se declarar integrante de família de baixa renda está liberado do pagamento. O pedido de isenção deve ser feito no momento da inscrição, também pela internet.

As provas serão aplicadas em 3 e 4 de novembro, em todas as unidades da Federação, a partir das 13 horas (de Brasília). No primeiro dia, sábado, serão realizadas as provas de ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias, com duração de quatro horas e meia. No domingo, os estudantes terão cinco horas e meia para fazer as de matemática e suas tecnologias; linguagens, códigos e suas tecnologias e a redação.

A divulgação do gabarito oficial, como estabelece o edital do exame, está prevista para 7 de novembro. O resultado final estará disponível para os estudantes a partir de 28 de dezembro.

Fonte: Assessoria de Comunicação - Ministério da Educação

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Aula interdisciplinar sobre Racismo 14/06/2012 - Sociologia-Biologia





Continuando a discussão proposta em aula, temos esses dois vídeos sobre o racismo.... Os vídeos foram enviados pelo professor de Sociologia da manhã Márcio Solh.... Aliás, o primeiro vídeo foi, também, uma sugestão de uma aluna da ONGEP na aula de quinta-feira....




Por último, posto este vídeo com a música 1999 da banda de reggae Natiruts, que em suma, relata a importância de um resgate e valorização da cultura do negro no Brasil, como descrito na letra abaixo.




"A cultura e o folclore são meus

Mas os livros foi você quem escreveu
Quem garante que palmares se entregou
Quem garante que Zumbi você matou
Perseguidos sem direitos nem escolas
Como podiam registrar as suas glórias
Nossa memória foi contada por vocês
E é julgada verdadeira como a própria lei
Por isso temos registrados em toda história
Uma mísera parte de nossas vitórias
É por isso que não temos sopa na colher
E sim anjinhos pra dizer que o lado mal é o candomblé
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A influência dos homens bons deixou a todos ver
Que omissão total ou não
Deixa os seus valores longe de você
Então despreza a flor zulu
Sonha em ser pop na zona sul
Por favor não entenda assim
Procure o seu valor ou será o seu fim
Por isso corre pelo mundo sem jamais se encontrar
Procura as vias do passado no espelho mas não vê
E apesar de ter criado o toque do agogô
Fica de fora dos cordões do carnaval de salvador
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não".




quinta-feira, 14 de junho de 2012

Direito de resposta Brizola X Globo

Um momento histórico, impressionante.


Vídeo visto na aula de Sociologia do dia 13 de junho - manhã. Profs Val e Solh.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cotas: uma mudança contextual...



Um depoimento muito emocionante sobre as cotas e a mudança não somente pontual, mas sobre o contexto familiar de cada aluno.
 "Sou cotista na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e gostaria de falar rapidamente sobre a minha história. Na verdade, sobre a história da minha família depois que eu ingressei no ensino superior. Estudei a vida toda na Escola Estadual Barão de Lucena, em Viamão, onde me formei no final de 2007. Meus pais não podiam pagar um curso pré-vestibular para eu me preparar para o próximo ano. Por isso, conversei com amigos, com primos, com ex-professores, tomei alguns livros emprestados e decidi estudar em casa. Graças às cotas, eu passei. Passei no vestibular para Jornalismo em 2009, na minha segunda tentativa."
"Depois que entrei na faculdade, minha cabeça abriu, meu português melhorou e as pessoas ao meu redor são outras. Muitas pessoas que se dizem contra as cotas discutem se eu vou ser um bom profissional, se eu fui jogado para dentro da Universidade para resolver um problema sem solução hoje. Se eu sou a estopa que está tentando tapar um buraco negro. Muitos dizem que eu ter saído da Vila São Tomé, em Viamão, e agora ter acesso a bibliotecas, ter conhecido pessoas que mudaram minha vida, ser voluntário na Central Única das Favelas, estar vivendo em uma realidade jamais pensada pela maioria dos meus vizinhos… vou além: eu ter conhecido a Casa de Cultura Mario Quintana, poder ir ao cinema toda a semana, vivenciar experiências vistas como coisa de burguês onde moro e até conseguir juntar dinheiro para visitar meus amigos na Europa. Tudo isso por causa das cotas, de eu estar dentro da faculdade. Muitos dizem que isso não resolve o problema da nossa sociedade, da educação brasileira, de anos de descaso. Pois bem."
"Muitos dos meus amigos não sabem, mas, até eu prestar vestibular, não tinha computador. Por estar no SPC, minha mãe pediu para nossa vizinha retirar no crediário um micro Compaq. Parcelado em doze vezes. Hoje, três anos e meio depois, escrevo todos os dias e trabalho com redes sociais – realidade que nem passava pela minha cabeça naquele momento."
"Se eu seguisse o rumo dos meus amigos de infância – parceiros do esconde-esconde, do futebol no asfalto – seria cobrador, motoboy, profissões comuns onde moro. Muito dignas, diga-se. Minha mãe sentiria orgulho de mim da mesma forma. Mas, hoje, sinto um brilho diferente. Minha mãe não pensaria duas vezes em se endividar para bancar um cursinho pré-vestibular para o meu primo. Não pensaria duas vezes em abrir mão de um dinheiro juntado com esforço, há muito tempo, para investir em um novo computador para a minha irmã. Não pensaria duas vezes em apostar em mim se eu dissesse que eu cresceria. Ela acredita agora que podemos crescer. Eu pude. Meu primo pode. Minha irmã pode. Por que não?"


Juliano Marchant, aluno cotista da UFRGS, durante #PosTV Cotas nas Universidades Brasileiras, em 29/04/2012

"Meu primo de sete anos está na segunda série do ensino fundamental na mesma Escola Estadual Barão de Lucena. Hoje, olho para ele – ou ele me olha – e sinto, vejo, noto com toda a sinceridade que ele não precisará de cotas para ingressar no ensino superior. Meu primo vê uma nova realidade em sua volta. O “primo grande” dele está na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O primo dele faz Jornalismo. O primo dele vai ter diploma. Tudo isso, por causa das cotas."
"Não é só a minha realidade, portanto. O meu ingresso na faculdade mudou a realidade de no mínimo três pessoas em volta. A medida paliativa, que não é a definitiva, com certeza, através de mim, vai resolver a vida do meu primo, da minha irmã."
"Quatro anos após o começo da discussão no Supremo Tribunal Federal, as cotas foram mantidas – com o aumento para 50% de vagas, ainda. Os magistrados não olharam somente para mim. Olharam principalmente para o meu primo e para a minha irmã, lá na frente."


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sociologia no Batman

É muito interessante a análise (fictícia, os fãs do Batman como eu sabem que não é bem assim). Mostra como funciona a "industria" do crime na vida real. A violência é produzida em grande parte pela ganância, que surge em função das desigualdades sociais e da cultura do consumo. E quem mais se interessa por manter a ordem são os que possuem mais recursos e privilégios.


UPDATE: É ingênuo supor que apenas uma causa como a desigualdade social ou mesmo a psicopatia de uma pessoa seja a causa da violência, em especial a que ocorre nas cidades. Multiplos são os fatores que influem na propagação da violência. Uma pessoa que é pobre, não necessariamente será violenta ou cometerá crimes. Mas diversos estudos sugerem que a violência é menor em locais onde a desigualdade social é menor, o que não impede que atos violentos (como o atirador da Noruega) ocorram.

Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade de consumo que faz com que as pessoas desejem consumir, mas que ao mesmo tempo as impede de realizar tal ato. Esta frustração faz com que as pessoas utilizem de meios não-institucionais (roubos, violência) para atingir tais objetivos (como demonstra esta análise de Zygmunt Baumann sobre os Riots em Londres).

E é fato que a desigualdade social surge apenas a partir do momento que uma pessoa fique mais rica que as outras, fazendo com que outra fique mais pobre, pois a medida de riqueza é sempre relativa, como bem demonstra Adam Smith no seu clássico livro "A riqueza das nações". A riqueza só existe se existir a pobreza. O rico não "incita" a violência urbana (?) diretamente. Ele já nasceu em um mundo onde já existiam ricos e pobres. Ele somente reproduz, não necessariamente consciente de seus atos, este sistema de desigualdade social. É a desigualdade social - fruto da existência da riqueza, de ricos e, consequentemente, da pobreza e de pobres - que produz isto. A violência é uma consequência não-intencional de seu ato.

Claro que isto somente ocorre em uma sociedade que vise o consumo. Em sociedades que a desigualdade social é consequência da religião (como no sistema de castas na Índia), provavelmente serão outros os problemas enfrentados.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Açúcar demais afeta o aprendizado, aponta estudo

Inclusão de ômega 3 nas refeições pode ajudar a minimizar os danos

Açúcar demais afeta o aprendizado, aponta estudo Martin Vang/Stock.xchng
Dieta rica em açúcar pode comprometer a memória Foto: Martin Vang / Stock.xchng
Comer açúcar demais pode consumir a energia cerebral, revelaram cientistas americanos que publicaram um estudo no Journal of Physiology, demonstrando como uma dieta com base em xarope de milho rico em frutose afetou a memória de cobaias.

Cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) alimentaram dois grupos de ratos com uma solução contendo xarope de milho rico em frutose — um ingrediente comum em alimentos processados — e água potável durante seis meses.

Um grupo de ratos tomou também um suplemento de ácidos-graxos ricos ômega-3, que estimula a memória, na forma de óleo de linhaça ou ácido docosahexaenóico (DHA), enquanto o outro grupo não fez o mesmo. Antes do início da ingestão de açúcar, os ratos passaram por um treinamento de cinco dias em um complexo labirinto. Os roedores foram colocados novamente no labirinto seis semanas depois de ingerirem a solução doce para ver como se saíam.

— Os animais que não tomaram DHA foram mais lentos e seus cérebros demonstraram um declínio na atividade sináptica. Suas células cerebrais tiveram dificuldade em enviar sinais entre si, prejudicando sua capacidade de pensar com clareza e lembrar o caminho que tinham aprendido seis semanas antes — afirmou Fernando Gomez-Pinilla, professor de neurocirurgia na Escola de Medicina David Geffen, na UCLA.

Uma análise mais detalhada nos cérebros dos ratos revelou que aqueles que não foram alimentados com suplementos de DHA também desenvolveram sinais de resistência à insulina, hormônio que controla os níveis de açúcar no sangue e regula a função cerebral.

— Uma vez que a insulina consegue penetrar a barreira sangue-cérebro, o hormônio pode sinalizar os neurônios, gerando reações que comprometem o aprendizado e causam perda de memória — disse Gomez-Pinilla.

Em outras palavras, comer frutose demais pode interferir na capacidade da insulina de regular como as células usam e armazenam açúcar, o que é necessário para o processamento de pensamentos e emoções.

— A insulina é importante no corpo para controlar o açúcar no sangue, mas pode desempenhar um papel diferente no cérebro, onde parece afetar a memória e o aprendizado — disse Gomez-Pinilla.

De acordo com o pesquisador, o estudo ilustram que "o que você come afeta como você pensa".

— Ingerir uma dieta rica em frutose a longo prazo altera a capacidade do cérebro de aprender e lembrar informações. Mas adicionar ácidos graxos ômega 3 nas refeições pode ajudar a minimizar os danos — acrescentou.

O xarope de milho rico em frutose é comumente encontrado em refrigerantes, condimentos, molho de maçã, comida de bebê e lanches processados. O americano médio consome mais de 18 quilos de xarope de milho rico em frutose ao ano, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Vem aí História no Cinema para Vestibulandos 2012

ENTRADA FRANCA


O CineBancários receberá pelo segundo ano consecutivo o ciclo História no Cinema para Vestibulandos 2012. Trata-se de encontros dirigidos a estudantes com filmes e palestras sobre os conteúdos da disciplina de História que caem no vestibular, que chega a 9º edição. Os palestrantes são graduandos, graduados, pós-graduandos e professores de História da Ufrgs e o objetivo do ciclo é relacionar, de forma didática e crítica, os filmes com os conteúdos de História. Participe!

Filmes e palestras com ENTRADA FRANCA
Local: Casa dos Bancários (Rua General Câmara, 424)
Horário: 9h30 às 12h30 (chegar com antecedência para assistir ao filme, pois as vagas são limitadas)
Organização do evento: Departamento de História da Ufrgs e SindBancários/CineBancários
Contato: historianocinema@gmail.com
Blog do História no Cinema: historianocinemaparavestibulandos.blogspot.com.br/
Blog do CineBancários: cinebancarios.blogspot.com.br/
Quem desejar receber certificado de participação, entrar em contato pelo email historianocinema@gmail.com


PROGRAMAÇÃO

> 19/05 - História Antiga
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? de Joel Coen, Ethan Coen  (EUA/França/Reino Unido, 2000, 106min.)

> 16/06 - História Medieval
Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, de Terry Gilliam (Inglaterra, 1975, 91min)

> 23/06 - História Moderna/Renascimento
Agonia e Êxtase, de Carol Reed (EUA, 1965, 138min)

> 14/07 - Brasil Colônia
Desmundo, de Alain Fresnot (Brasil, 2002, 101min)

> 21/07 - Iluminismo/Revolução Francesa
Maria Antonieta, de Sofia Coppola (França/EUA/Japão, 2006, 123min)

> 18/08 - Brasil Império/História do RS

Anahy de Las Misiones, de Sérgio Silva (Brasil, 1997, 107min)

> 25/08 - Revolução Industrial

Tempos Modernos, de Charlie Chaplin (EUA/França/Reino Unido, 1936, 87min)

> 15/09 - 1ª Guerra Mundial/Imperialismo
Gloria Feita de Sangue, de Stanley Kubrick (EUA, 1957, 88min)

> 29/09 - República Velha

O Preço da Paz, de Paulo Morelli (Brasil, 2003, 103min)

> 20/10 - 2ª Guerra Mundial/Nazismo

A Onda, de Dennis Gansel (Alemanha, 2010, 101min)

> 27/10 - Era Vargas/Populismo

Bem Amado, de Guel Arraes (Brasil, 2010, 107min)

> 10/11 - Guerra Fria
O Sol da Meia-Noite, de Taylor Hackford (EUA, 1985, 136min)

> 24/11 - Ditadura Civil-Militar
O Que É Isso, Companheiro? de Bruno Barreto (Brasil, 1997, 110min)

> 01/12 - África Contemporânea

O Último Rei da Escócia de Kevin Macdonald. (Reino Unido, 2006, 122min)



CineBancários
(51) 34331204 / 34331205
Rua General Câmara, 424, Centro - POA
blog: cinebancarios.blogspot.com
site: cinebancarios.sindbancarios.org.br
facebook.com/cinebancariosII
Twitter: @cine_bancarios

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O que é a sociedade?


O que é a sociedade? Um grupo de indivíduos? Então um time de futebol é uma sociedade? Ou então as pessoas presas num campo de concentração formam uma sociedade? Os judeus, espalhados pelo mundo, formam uma sociedade? Os Maçons, são uma sociedade? Nós, aqui, somos uma sociedade? Ou uma sociedade é algo, mais amplo, como um Estado, que nem o Brasil? Ou o Rio Grande do Sul? Ou Porto Alegre? É possível uma sociedade dentro de outra? O que diferencia uma de outra? Várias sociedades podem coexistir ao mesmo tempo? Tu podes participar de mais uma sociedade ao mesmo tempo?

E os indivíduos na sociedade? Eles são mesmo livres ou são coagidos? Vocês acham que vocês pensam livremente ou pensam o que a TV, a família, o chefe do trabalho ou o professor do cursinho mandam ou fazem vocês pensarem?

Na verdade existem várias teorias sobre isso. Na sociologia 3 são as principais.

- Durkheim acreditava que quando houvesse algum tipo de coerção, havia sociedade. Os indivíduos seriam consequência da sociedade. A sociedade é algo externo ao indivíduo.
- Weber, sociedade é um conjunto de ações individuais. A sociedade seria consequência dos indivíduos.
- Para Marx, sociedade é um grupo de pessoas que vivem em conjunto e produzem as coisas que precisam para sobreviver em conjunto.

DURKHEIM
Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a sociedade só é coesa quando existem valores, hábitos e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do grupo social ao qual pertencem.

Existe um conjunto de crenças e sentimentos comuns entre os indivíduos chamados consciência coletiva, que constrangem ou coagem os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta.

A consciência coletiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade e não o contrário.

Tudo o que é coletivo, exterior ao indivíduo e coercitivo, Durkheim chama de Fato social, que é o que acontece na sociedade.

Durkheim demonstra que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular.

Ele atribui três características que caracterizam os fatos sociais:
- 1: coercitividade, que pode ser entendido como a força que exercem sobre os indivíduos obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as regras, normas e valores sociais vigentes;
- 2: exterioridade, que pode ser entendida como a existência de um fenômeno social que atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais;
- 3: generalidade, que pode ser entendida como a manifestação de um fenômeno que permeia toda a sociedade.

O suicídio, por exemplo, a primeira vista pode ser encarado como um fenômeno individual, mas a constatação da sua regularidade ao longo do tempo (de acordo com os dados estatísticos) fez com que Durkheim o concebesse como um fenômeno social.

WEBER
Para Weber a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. As normas e regras sociais são todo tipo de ação que o indivíduo faz, orientando-se pela ação de outros. Não é algo que vem de cima, ou de fora, como diz o Durkheim. Mas que vem de dentro do indivíduo e da sua relação com o outro. Assim uma sociedade humana se diferencia de uma sociedade de formigas, por exemplo. Nós damos sentido às ações.

Só existe ação social, quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais.

Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Estes são conceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social:
1 – ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado; (tradição, sempre foi assim, ação sem reflexão).
2 – ação afetiva: aquela determinada por afeto ou estado sentimental; (de momento, na paixão, no calor, também sem reflexão).
3 – racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; (uma pessoa que crê no princípio que não devemos torturar pessoas numa democracia e age racionalmente, sempre levando em conta este princípio).
4 – racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. (como o capitalista, que age racionalmente, não pensando que para isso ele explora as outras pessoas).

MARX
A sociedade é um Grupo de pessoas que vivem em conjunto e produzem as coisas que precisam para sobreviver em conjunto. De algum modo elas distribuem e consumem o que produzem. O modo como elas produzem e distribuem as riquezas é que vai variar.

E é esta estrutura que determina como os indivíduos vão agir. Ou seja, como a sociedade produz suas riquezas que vai determinar tudo, inclusive o modo como as pessoas serão.

Por exemplo: uma sociedade industrial que nem a nossa, vai produzir indivíduos que são agitados e vivem na correria. Uma sociedade agrária vai produzir uma vida mais tranquila. Aquela vidinha morna no interior.

ELIAS – UM CONCEITO DE SOCIEDADE
Estas noções de sociedade são muito boas, mas não conseguem responder quais os limites e as áreas de abrangência da sociedade. O sociólogo alemão Norbert Elias traz um conceito interessante do que seria a sociedade e as instituições sociais.

O que é sociedade para Elias? Os indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de muitos tipos: família, aldeia, cidade, estado, nações. Essa rede de relações são as estruturas sociais, que podem coexistir, dependendo da configuração.

O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões e teias de interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em agrupamentos maiores. As sociedades não têm fronteiras e limites especificáveis, pois as cadeias de interdependência escapam a delimitações e definições abrangentes.

Desse modo, a relação entre o indivíduo e as estruturas sociais deve ser analisada e concebida como um processo. Ou seja, "estruturas sociais" e "indivíduo" (ou seja: "ego" e "sistema social") são aspectos diferentes, mas inseparáveis, cuja análise deve recair sobre as teias de interdependência humanas que formam as configurações sociais.

Desde o início de suas vidas os homens existem em interdependência; e uma parte da teia de interdependência tem origem nas necessidades biológicas dos seres humanos, que desde os primeiros momentos de suas vidas necessitam dos cuidados e da atenção dos próprios pais.

Entretanto, uma grande parte das teias de interdependência advém de necessidades recíprocas, socialmente geradas, tais como a divisão do trabalho, a competição, as ligações afetivas, entre outras.

A teoria do Norbert Elias diz que caminhamos cada vez para uma maior interdependência - e olha que ele nem chegou a conhecer a internet, que nos faz cada mais conectados em rede ainda. Quando vivíamos no campo as pessoas se relacionavam de maneira interdependente com um número restrito de pessoas.

Hoje em dia tem toda uma cadeia produtiva nas cidades, onde cada um exerce uma pequena coisa, uma pequena função, ajusta um parafuso das milhares de coisas que lidamos todos os dias. Uma bolacha comprada move uma linha da teia que vai do cara que criou a sacolinha do supermercado, ao padeiro, ao motorista do caminhão, ao dono do supermercado, ao gerente de compras, ao supervisor de qualidade, ao agricultor que plantou, a filha do agricultor que tirou a soja e por aí vai.

Falamos normalmente sobre a família, a sociedade, o indivíduo na sociedade, mas sem nos darmos conta que somos parte disso. A sociedade, assim como qualquer estrutura social, não pode ser posta a par dos indivíduos. Ela é composta por eles (por nós). Os indivíduos não são rodeados pela família, escola, indústria, estado, ou seja, pela sociedade, como se estivessem no centro de um círculo. O indivíduo é parte de tudo isso. Não é que as estruturas não existam. Mas tudo o que existe no mundo, inclusiva as estruturas, é construído e reconstruído continuamente pela ação dos indivíduos.

SOBRE O PAPEL DA SOCIEDADE NO INDIVÍDUO E DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE
Bom, falamos sobre uma teoria do que é a sociedade. Agora vamos pensar qual é afinal o papel que a sociedade exerce no indivíduo?

Bom, quando nascemos, nascemos em um mundo que já está dado. Já existem costumes, regras, escolas. E tudo isso vai moldar como nós vamos ser. A família vai dizer quais valores são importantes, dizer se vamos para tal religião, se vamos comer carne ou ser vegetarianos ou se vamos ver mais TV ou ler mais livros.

Claro, isso já foi mais forte. Antigamente a tradição decidia tudo isso. Não tínhamos escolha. Hoje, podemos escolher. Se nascemos numa família vegetariana, não necessariamente seremos vegetarianos. Mas até crescermos e podermos escolher, não vamos comer carne. Dependendo se os nossos pais nos criam numa comunidade vegetariana, sem contato com o mundo exterior, é provável que reproduzamos a tradição. Então neste sentido, a sociedade que vai moldar as nossas escolhas. E os indivíduos vão interiorizar isso. O que nossos pais dizem para nós (como mostra Freud), vamos levar pra vida toda, lá no nosso inconsciente. E as coisas que nós acreditamos, nossas crenças, vamos agir de acordo com elas. Vamos exteriorizar o que sentimos agindo. Claro que há uma diferença entre pensar, sentir e agir. Assim, as coisas vão sempre se modificando.

Então, qual o papel que o indivíduo exerce na sociedade? Ele é só essa coisa que obedece a sociedade? Não. Sabemos disso. Fazemos nossas escolhas, vamos contra a sociedade de vez em quando. Como o Weber disse, a sociedade não existe sem os indivíduos e aquilo que dá sentido à sociedade. Qual a diferença entre um prédio comum e um escritório de trabalho? É o sentido que as pessoas dão, o que elas fazem lá dentro.

As teorias evolucionistas mostram isso. O que elas dizem? Que o indivíduo humano que iniciou a sociedade. Foi uma mutação em indivíduos que se organizaram e “fundaram” a sociedade, de algum modo. Claro, que pensamos assim também porque a nossa sociedade nos dá oportunidade de pensarmos de outro modo. É uma sociedade complexa, que nos permite fazer escolhas. Se não fosse assim, poderíamos mudar?

Sim. Porque nem sempre foi assim. Como vocês acham que a sociedade mudou para chegar no ponto em que chegou? Como funciona isso? A sociedade existe antes de nós indivíduos. Nascemos no mundo e só agimos racionalmente nele depois de um tempo, correto? Mas ao mesmo tempo, a sociedade só existe se é internalizada pelos indivíduos. Se eles creem que tudo está certo e reproduzem agindo. A ação, nem sempre corresponde ao que pensamos, ao que queremos. Sempre escapa do nosso controle quando agimos coletivamente. Os indivíduos são sujeitos capazes de cognição e que possuem um considerável conhecimento das condições e das consequências do que fazem em suas vidas cotidianas. Mas não podemos controlar o mundo.

A sociedade é como uma gota d’água. Ela é a junção de duas moléculas de H e uma de O. Mas se tu separar o H do O, vão surgir duas coisas diferentes. E a água é não é a soma simplesmente das características de H e O. É uma terceira coisa. Já a sociedade depende do que internalizamos. Somos nós que a produzimos. Mas nunca do jeito que queremos. É sempre algo diferente que se cria, porque é diferente do eu ou tu pensamos individualmente. É uma terceira coisa. E vai sempre se modificando conforme vamos agindo. Ela depende da nossa subjetividade. Se não cremos juntos que somos uma sociedade, somos simplesmente um monte de gente reunida. Como um sagu. Sem o suco de uva que nos una, somos apenas aquelas bolinhas brancas.

Ocorre que muitas coisas que fazemos, o realizamos sem reflexão. Como ir pegar o ônibus, por exemplo. Quem nunca pegou o mesmo ônibus todo dia e quando mudou acabou pegando um errado ou quase isso. Ou então bateu com a canela numa mesinha que não estava ali porque estava acostumado sem aquilo ali? É a rotina. Se nós tivéssemos que refletir e pensar racionalmente sobre tudo o que fazemos, ficaríamos loucos. Já pensou ter que escolher entre todas as coisas do supermercado? Analisar tudo? Se não fosse os gostos e as preferências já pré-determinados seria impossível lidar com tanta informação.

Assim como a estrutura existe. Mas ela não existe assim. A cultura, por exemplo. É uma estrutura social. Mas não podemos pegar a cultura, por mais que ela apareça em objetos e nas pessoas. Um exemplo é uma faculdade. O que é uma faculdade, é um prédio? Não. Existem pessoas. Mas um prédio com pessoas não é uma faculdade. Pode ser milhões de coisas. Existe um sentido, que é mais do que o que as pessoas vão fazer lá. Vão estudar, pode ser outra coisa. Uma escola ou uma biblioteca. Pra ser uma faculdade, tem uma série de sentidos. É isso que é a sociedade.

Redação: O que vocês acham, pequenos gafanhotos:
Na sociedade em que vivemos (Brasil, Porto Alegre, 2012), o indivíduo prepondera sobre o coletivo ou o coletivo sobre o indivíduo? Até que ponto vocês acham que nós somos determinados pela nossa sociedade ou pela nossa condição social? Qual o limite da ação individual sobre o coletivo? Vocês acham que algumas pessoas tem mais liberdade do que outras?